Nu feminino

Penso ser difícil, para um homem, compreender a essência de uma mulher. E vice-versa, também.

Como mulher, tenho muito para dizer, coisas que não abonam a “nosso” favor.
Não defendo as mulheres, com unhas e dentes, como vejo muitas outras fazer. Não me revejo nos olhos da maior parte das mulheres. Não aceito o conformismo geracional, não aceito a própria aceitação – “ora, isto sempre foi assim …”. Nós, mulheres, não somos uma “raça” a defender, nem tão pouco a atacar. Somos a face feminina do ser humano. O outro lado que se completa com o masculino. Podemos completar-nos, em vez de competir.

Mas a competição feminina, entre si, é feroz! E o que de melhor (ou pior) têm as mulheres, nestas coisas – é feroz e subtil, ao mesmo tempo. Se não houver por parte dos observadores masculinos uma sensibilidade extra, muitas e pequenas “subtilezas” que se passam entre as mulheres, serão ignoradas.

Mas, começando pela educação, por exemplo; mães e avós, gerações inteiras de mulheres insistem em educar filhas e filhos de forma diferente – reservando a cada um deles o “seu” papel. O papel do costume: é suposto que a mulher faça isto e o homem aquilo. Pensava eu que isto com o tempo iria mudando, mas não.
Estou na casa dos quarenta anos – habitualmente, não associo a minha idade a nenhum processo de retrocesso, mas sim de avanço, de evolução, de maior beleza e maturidade. Encontro mães de idade inferior à minha, e observo-as, supondo que haveria um avanço de mentalidade, justamente por serem mais novas que eu. Vejo-as com esta “funcionalidade” educativa idêntica à da minha avó: as mulheres fazer isto, os homens fazem aquilo. E fico chocada, perco a identificação com estas mulheres, nem sequer tenho assunto de conversa com elas.
Não nos enganemos, em termos de educação dos filhos, a nossa sociedade é matriarcal. Não são os homens que o fazem. São as mulheres. Portanto, mulheres educam mais mulheres.

Nos relacionamentos humanos, afectivos, as mulheres competem pelos homens de uma forma estúpida e banal. Vem acima, de alguma forma inconscientemente, a nossa parte biológica – fêmea seduz macho. E se outra fêmea surge no território, abate-se a outra fêmea.
Tantos casos que conheço de mulheres que têm o seu companheiro de vida, que, por qualquer razão que não interessa neste contexto, vai mantendo relacionamentos com outra ou outras mulheres. Contra quem se vira a raiva desta mulher? Não é com o seu marido que se zanga infinitamente, não. Vai zangar-se, enfim, de maneiras tantas vezes ordinárias (leia-se como os Ingleses dizem “ordinary” - comuns) com as outras mulheres.
Recordo uma noção muito simples e lógica: ninguém, seja homem ou mulher, pode ser “roubado” sem o seu consentimento! Não há mulheres destruidoras de lares! Não há! Há uma palavra que consta no nosso dia-a-dia normalíssimo que sempre se pode dizer – NÃO! Se uma família é “destruída” por uma outra mulher, é porque o homem da família assim o quis. Ele disse SIM. Então porque é que mães e mulheres casadas se zangam com as outras mulheres que “se lhes metem no caminho”, que seduzem os maridos e pais dos seus filhos?
É de uma imaturidade gritante esta atitude de responsabilizar “a outra” por uma separação de um casal, se o próprio casal não olha para o seu próprio relacionamento! Também já ouvi mulheres dizer-me “sim, eu sei que ele tem outras, mas os homens têm muito mais vontade de sexo que nós, por isso, não faz mal!”. Curiosamente, esta atitude não me choca muito. Ela sabe e aceita. Não se zanga nem atribui culpas às “outras”. Respeito.


A mulher na profissão, pois é uma chatice, porque a mulher que escolhe seguir uma carreira e ao mesmo tempo ter uma família, corre o risco de ser sobrecarregada de trabalho. Alguém lhe ensinou antes quais são os papéis que ela “deve” ter em casa.

Ah! Fora o assédio a que pode ser sujeita no emprego. Isto há de tudo um pouco, entre nós, mulheres. Também há as que se aproveitam desta situação de assédio, para serem elas a assediar e dizer que é ao contrário. Afinal, assim, de repente, quem “costuma” ser o assediador, o mais activo, sexualmente? Pois, o macho. Portanto, uma mulher assediadora num ambiente de trabalho? Não. Sou eu que ando a ouvir coisas… de certeza!

Agora, as quotas para as mulheres na política!
Credo! Então e se não houver vocação numa mulher para a política? Tem de constar numa lista política, só para fazer número?
Parece o ensino em Portugal. Para dar números positivos de sucesso escolar à UE, transitam-se os alunos, nem que eles não tenham conhecimentos ou atitudes que levem a isso!
Enfim, são desabafos de uma mulher, que vive num mundo em que, de facto, segundo as estatísticas, há mais mulheres que homens. Mulheres que responsabilizam os homens pelas suas próprias atitudes, responsabilizam outras mulheres e têm grande dificuldade em se olhar ao espelho, dizer “fui eu que permiti isto” ou “sou eu que quero assim” e sentir-se seguras com elas mesmas.

Recordo outra coisa: uma mulher não tem de ser mãe, não é obrigatório que tenha família formada, não tem de se deixar vitimizar.

Parece que me posiciono contra as mulheres? Não, não é isso. Este raciocínio que fiz é generalista, não é sempre assim, mas é maioritariamente assim. Há muito poucas mulheres que são efectivamente minhas amigas!

Como mãe de uma filha, quero quebrar com ela a “herança” feminina que me foi passada e que considero absurda e ridícula.

Se nós, mulheres formos mais iguais a nós próprias, se pensarmos pela nossa própria cabeça, em vez de enfermar das “doenças” das mulheres do nosso passado, se construirmos a nossa segurança, baseada em atitudes de auto-responsabilização pelo que fazemos e pelo que nos acontece… talvez, talvez… possamos dizer às nossas filhas e filhos que a igualdade entre os sexos é precisamente baseada na diferença que cada ser humano tem.


Educados nesta base, os nossos filhos, rapazes ou raparigas … talvez, talvez … possam compreender melhor, respeitar melhor que o que é equilibrado é o que se completa, não o que compete.