O casal

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Nas personagens da minha vida matinal, encontro sempre este casal; os dois ultrapassaram os 65 anos. Estão reformados.
Vêm beber café ao mesmo sítio onde tomo o pequeno-almoço.
Ele lê o jornal. Ela faz palavras cruzadas. Todos os dias.
Sinto este conforto do silêncio destas duas pessoas, casadas - posso imaginar - há muitos anos.
Estava sentada ao lado deles e a pensar:
que sossego é este?
é um sossego de conformismo?
é um sossego de entendimento?
é um sossego simples?
é um sossego de tédio?
Não sei se aprecio este sossego ou se me assusta. Sei que mexe comigo.
Se calhar é isso. Mexer. Assusta-me o que não se mexe - os seres em silêncio, porque não sei que tipo de silêncio é.
Também sei que há muitos tipos de silêncio. E sei ainda que, mesmo que cá fora haja silêncio, há um mundo que povoa a mente de cada um.
Na verdade, percebi agora, o que me assusta é não saber o que vai dentro da cabeça das pessoas. Principalmente quando não o dizem.