Não me lembro de ver a questão da despenalização do aborto tão acesa como neste referendo. Aliás, aqui no Clube foi abordada há pouco tempo.
Quanto mais informados achamos que estamos, porque estão mais acessíveis muitas fontes de informação, mais manipuláveis e desinformados nos permitimos estar.
Li que, segundo declarações do Presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Adriano Vaz Serra, pelo menos 14% das mulheres que abortaram, sofreram de stress pós-traumático.
Ora eu, cidadã, quero saber de onde vieram estes números e o que significa este "pelo menos". De Portugal não foi, porque o aborto é ilegal no nosso país, portanto, números ou estatísticas podem ser facilmente subvertidos.Então, estes números só podem vir de outros países... Estados Unidos, talvez? E desde quando, a qualquer nível os Estados Unidos são exemplo para alguém? Porquê ir buscar estatísticas que convêm tanto a alguns?
Porque deve estar muito próxima uma mudança qualquer.
Os que são a favor do "não" parecem-me assustados. Isso é claro! Promovem acções de "informação", muitas delas subtis outras mais evidentes, tomam iniciativas várias. Estão assustados. E porquê? Porque se assustam?
Primeiro, penso que estas pessoas acreditam piamente que despenalizar o aborto vai torná-lo mais frequente. Depois, porque, quem sabe, um dia, uma das suas filhas ou mulheres poderá precisar de fazer um aborto... e assim, constará das estatísticas oficiais. E aborto é coisa para se esconder em certas famílias, não é?
Despenalizar o aborto não obriga ninguém a fazê-lo e também não o vai facilitar. Todos conhecemos alguma mulher que já fez um aborto. Todos sabemos que nunca é uma decisão fácil, nem é tomada de cabeça leve. Despenalizá-lo não vai facilitar esta mesma decisão. Perguntem a qualquer mulher, que tenha abortado ou não.
Por outro lado, e isto é muito importante, o aborto não pode, não deve ser um método estranhamente contraceptivo. Conheço uma mulher, que está agora na casa dos 60 anos, casada há mais de 25 anos, que fez 11 abortos. 11!!! Ao longo de uma vida conjugal de mais de duas décadas, esta família - porque estas 11 decisões foram consensuais com o marido - optou por este tão estranho método contraceptivo! É preciso garantir que isto não suceda, precisamente, com o aborto despenalizado.
Este é o ponto de equilíbrio que falta estabelecer.
Continuo a achar que fazer um aborto é tirar uma vida! Claro que conheço mais mulheres que fizeram abortos. Será que alguém pensa que essa decisão é fácil? Será que os que apoiam o "não" pensam que despenalizar vai tornar esta decisão mais fácil?
Num casamento, em que o casal engravida, tomar conhecimento da gravidez é fácil?
Quer dizer, em geral, uma gravidez, todos sabemos, muda completamente as nossas vidas. Uma gravidez pode vir carregada de felicidade e alegria ... ou não, mesmo num casamento.
Já agora, qual é a percentagem, em Portugal, de mulheres que sofrem de depressão pós-parto?
Sim, abortar é matar um ser vivo. Isto é um facto irrefutável para mim.
Porém, se não o despenalizarmos, nunca saberemos quantas famílias o fazem, como, quando e porquê.
Atrás desta questão, está outra, igualmente importante e que nos faz ponderar muitas vezes. Uma questão profundamente enraizada no nosso inconsciente colectivo e social: a sexualidade. Em geral, uma sexualidade pouco sadia, retraída, castrada. Daqui até aos "processos criminais tipo Casa Pia" vai um passo.
Vai tudo dar à mesma coisa. Sexualidade! Homens, mulheres, seres humanos, sociedade... vida e morte.
Pessoalmente, eu digo
não à abstenção!