deserto


Gortoz A Ran-J'Attends - Danez Prigent & Lisa Gerrard
Banda Sonora "Blackhawk Down"


Há quem chame "travessia pelo deserto" a uma fase pela qual passamos na nossa vida. Fase ou fases.
São espaços de silêncio e confusão, perturbação interior, onde se ouve apenas o vento a soprar nas dunas, o brilho forte do sol, o extremo calor, uma sede alucinante, pisar a terra quente, queimaduras na pele, fome, solidão; falta de alimento, água, companhia. Só nós e o deserto.
Daqui retiro a simbologia.
Desconstruir estes momentos em que o silêncio cá dentro é grande e confuso (porque não estamos habituados a ele), momentos em que todo o ruído vindo de fora é tão intenso quanto o silêncio.
Há quem não goste particularmente desta "travessia". Para mim, é um espaço tão necessário, tão urgente, quanto essencial.
Por outro lado, tornar esta travessia no deserto eterna - eterna enquanto vivemos - é pouco "natural" para nós, citadinos e urbanos.
Por isso, passar por uma fase destas é útil, sempre que se faça de forma harmoniosa e equilibrada.
Se é possível harmonizar e equilibrar este desconforto? Talvez.
Equilibrar a solidão interior, o extremo calor, a fome e a sede, o medo de morrer ali, sem ninguém, a impotência de soltar um grito que mais ninguém ouve. Um grito que fica ali, no vazio quente das nossas únicas pegadas.
Existe nesta travessia um escape ao ruído, um olhar diferente para uma paisagem diferente - praticamente só nos sobra olhar para o que sentimos, porque o resto é simplesmente a natureza agreste. Adoptar o silêncio como forma de apreciar o que realmente anda às voltas e aos remoínhos dentro de nós.
Aqui, não podemos responsabilizar ninguém pelos nossos actos.
Sim, a culpa é dos cactos, da terra quente, do sol escaldante, do vazio de gente.
Sem água, nem comida, sem transporte, que não sejam os nossos pés, quilómetros e quilómetros de areia à nossa frente, sem se ver um final que nos sossegue.

A morte certa é quando se pára ali, quando se cai e se desiste.
Seguir em qualquer direcção, aprender para que lado se vira o sol quando desce no horizonte, traçar um caminho baseado na nossa intuição interior. Prosseguir, com fome, sede, em solidão. Só nós, connosco próprios.
Não adianta criar imagens fictícias de oásis. Sabemos que essa é a pior das ratoeiras - a ilusão.

Prosseguir sempre.
O que está do outro lado do deserto, ultrapassado o medo de tudo o que nos rodeia, será certamente uma belíssima surpresa e um consolo para a alma.


No escurinho ...

[Foto de Algodão]

plantem-se cafés ... à beira-mar

mulher

É a mesma história!
Todos os anos, 8 de Março, Dia da Mulher, com maiúsculas, porque nos outros dias, mulher escreve-se com letra pequena.
E recebem-se os mails da ordem, uma lamechice de todo o tamanho, com textos escritos com os quais não me identifico... e sou mulher.
Cá está um desses textos, com os meus comentários (as pessoas sensíveis não devem ler):


"Ser mulher é viver mil vezes em apenas uma vida, (ai sim? e os homens não vivem, não?)
é lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora, (só as mulheres, portanto)
é estar antes do ontem e depois do amanhã, (chatice, logo eu que gosto de viver o momento presente!)
é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus actos. (ui ui, a santa da mulher!)

Ser mulher é caminhar na dúvida cheia de certezas, (lá está, os homens não têm dúvidas, nem certezas...)
é correr atrás das nuvens num dia de sol (isso faz qualquer um, homem ou mulher, com um espírito aberto e são)
e alcançar o sol num dia de chuva. (crap)

Ser mulher é chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza, (ai é? não sabia!)
é cancelar sonhos em prol de terceiros, (chiça! Nunca!)
é acreditar quando ninguém mais acredita, (hum... também não é verdade!)
é esperar quando ninguém mais espera. (voltamos à santa da mulher)


Ser mulher é identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa, (sensibilidade também é masculina)
é ser enganada e sempre dar mais uma chance, (isso é que era bom!!!)
é cair no fundo do poço e emergir sem ajuda. (qualquer pessoa com força interior faz isso)

Ser mulher é estar em mil lugares de uma só vez, (isso é omnipresença; ninguém é omnipresente!)
é fazer mil papeis ao mesmo tempo, (quem tiver jeito para isso...)
é frágil para ter um carinho. (também há as que usam essa fragilidade para manipular)

Ser mulher é perder-se nas palavras e depois perceber que se encontrou nelas,
é distribuir emoções que nem sempre são captadas.
(somos umas coitadinhas!)

Ser mulher é comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos, mas jamais dever,
é construir castelos na areia, vê-los desmoronados pelas águas e ainda assim amá-las.
(hein?)

Ser mulher é saber dar o perdão, (só as mulheres, mais uma vez!)
é tentar recuperar o irrecuperável,
é entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.
(wonderwoman!!!)

Ser mulher é estender a mão a quem ainda não pediu,
é doar o que ainda não foi solicitado.
(não queriam mais nada!)

Ser mulher é não ter vergonha de chorar por amor,
é saber a hora certa do fim,
é esperar sempre por um recomeço.
(espera espera, fia-te na virgem e não corras!)

Ser mulher é ter a arrogância de viver apesar dos dissabores,
das desilusões, das traições e das decepções.
(pois, os homens, em circunstâncias adversas, morrem)

Ser mulher é ser mãe dos seus filhos e dos filhos de outros e amá-los igualmente. (isso é que era bom!)

Ser mulher é ter confiança no amanhã e aceitação pelo ontem,
é desbravar caminhos difíceis em instantes inoportunos e fincar a bandeira da conquista.
(guerreira também? saco de porrada, não?)

Ser mulher é entender as fases da lua por ter suas próprias fases.
É ser "nova" quando o coração está à espera do amor,
ser "crescente" quando o coração está se enchendo de amor,
ser "cheia" quando ele já está transbordando de tanto amor
e "minguante" quando esse amor vai embora.
( uma tentativa literária...)

Ser mulher é hospedar dentro de si o sentimento do perdão,
é voltar no tempo todos os dias e viver por poucos instantes
coisas que nunca ficaram esquecidas.
(esta era mais uma tentativa de fazer poesia, sem significado algum!)

Ser mulher é cicatrizar feridas de outros
e inúmeras vezes deixar as suas próprias feridas sangrando.
(sim sim, é qu'é já a seguir!!!)

Ser mulher é ser princesa aos 20,
rainha aos 30,
imperatriz aos 40
e especial toda a vida.
(e sempre bonita, bela, bem arranjada... etc, não?)

Ser mulher é conseguir encontrar uma flor no deserto,
água na seca e labaredas no mar.
(Ah ok, somos a vara do vedor!)

Ser mulher é chorar calada as dores do mundo
e em apenas um segundo estar sorrindo.
(Arre! Gritem, caraças!)

Ser mulher é subir degraus e se tiver que desce-los não precisar de ajuda,
é tropeçar, cair e voltar a andar.
(isso é para todos, homens e mulheres)

Ser mulher é saber ser super-homem quando o sol nasce
e cinderela quando a noite chega.
(então, os homens existem para quê?)

Ser mulher é ter sido escolhida por Deus para colocar no mundo os homens. (ora pois... e também pomos no mundo outras mulheres)

Ser mulher é acima de tudo um estado de espírito, é uma dádiva,
é ter dentro de si um tesouro escondido
e ainda assim dividi-lo com o mundo!!!!!!
(ah, se é um estado de espírito, começo a entender cada vez melhor a homossexualidade masculina!)

Tenho orgulho de ser mulher ... (ok, ok)
Silvana Duboc

Qua cagada!
Finalizo com uma frase minha:
Sou grata por ter nascido! Sou um ser humano, independentemente do género.

Nasci mulher e vocês devem fazer uma pequena ideia de quantas mulheres, filhas da puta e sacanas, há por aí.
Portanto, o valor de cada ser humano não está no género masculino ou feminino.
Conheço mulheres e homens maravilhosos.
Conheço outras e outros que são umas bestas, e isso nada tem a ver com o facto de se ser mulher ou homem.

Vou fazer uma manif:
Basta de lamechice com esta coisa do dia da Mulher!!!

Mudem para o Dia Mundial da Vítima. Aí estarão correctamente a direccionar-se para quem é efectivamente vítima de algo: homem, mulher ou criança. O sexo ou a idade nada têm a ver com isto.