abre aí, é o Paulo!
Que linda manhã de sol, para ir à caixa multibanco!
Estive à espera um bom bocado que um senhor fizesse uns quantos pagamentos e uma senhora levantasse dinheiro, antes de chegar a minha vez.
Foi quando o Paulo passou por mim.
Dirigiu-se à porta do prédio onde estava a caixa multibanco. Tocou na campaínha do 2º.
Vinha com um caminhar lento, displicente, como quem controla a vida, tudo e todos. E de quem se marimba para tudo e todos, também.
Camisola de alças preta, a realçar o moreno da pele de ir à praia, durantes estes dias já quentes. Cabelo bem curto, tapado por um boné de pala preto, com uns dizeres à frente que não consegui ler. Calças de ganga muito compridas, rasgadas ao fundo e dobradas para cima. Rasgadas também no rabo, um grande rasgão debaixo da nádega direita.
Nas orelhas, dois brincos que brilhavam debaixo do sol quente do meio-dia.
No pulso direito, uma pulseira de prata.
Enquanto esperava que lhe abrissem a porta do prédio, o Paulo coçava fortemente o rabo, a nádega direita, mesmo no sítio onde tinha o rasgão nas calças. Tocou de novo na campaínha do 2º, com a mesma displicência e lentidão com que caminhou até ali.
Moveu os pés, dentro de umas chanatas pretas, já mais inquieto.
Ouviu-se o som do intercomunicador.
- Sim?
- Abre aí. É o Paulo.
Era o Paulo.
Eu, pessoalmente, não sei quem é.
A porta do prédio abriu-se, ele entrou, mais uma vez displicentemente.
E a seguir, chegou a minha vez e fui, então, à caixa multibanco.
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